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INTRODUÇÃO

 

Nestes Foros alentejanos, viveram 40 famílias com os seus 114 filhos, que no local passaram a sua infância e ali estabeleceram as suas raízes. Realizam-se 41 casamentos – entre 1940 e 1970.

Não nasci nestes Foros mas foi aqui que passei a minha infância, tendo chegado a ali com os meus pais com a idade de um ano. No ano de 1963, data em que tinha 16 anos, parti desta terra em direção à grande cidade de Lisboa. O vazio que se criou e as saudades desses tempos idos, impeliram-me a registar em papel as minhas recordações e memórias, para que as gerações futuras possam ter uma pálida ideia do que eram os Foros e a vivência em comunidade que ali se desenvolvia: das tristezas, felicidades e sonhos, e acima de tudo, o esforço dos seus habitantes para melhorar as suas condições de vida. Só podemos imaginar, porque, hoje, nada se encontra no local a não ser eucaliptos e um vazio de vestígios da vida humana que ali fervilhou.

 

A Herdade do Sobralinho, que está integrada na Freguesia de S. Domingos da Serra, concelho de Santiago do Cacém, tinha nos finais do séc. XIX um único proprietário: O Sr. Estevão.

 

Após o seu falecimento, a propriedade foi dividida por dois herdeiros, seus descendentes. De forma a distinguir as novas parcelas, começaram a ser designadas por Sobralinho de Baixo e Sobralinho de Cima, do Sr. Estevão e do Sr. Francisco Estevão, respetivamente – este último conhecido pelo nome de Chico do Sobralinho.

 

A falta de mão-de-obra e a incapacidade em desenvolver atividades que rentabilizasse tão extensos terrenos, nomeadamente, a agrícola, que requeria uma mão-de-obra intensiva, dado nessa época os trabalhos nos campos serem quase na sua totalidade manuais, obrigou a que se praticasse o emprazamento ou enfiteuse, ou seja, a criação de lotes de terreno que eram conhecidos pelo termo Foros.

 

A desmoita, a limpeza dos terrenos, a lavoura, a sementeira, a monda, a ceifa e a debulha, bem como, cavar o milho e guardar o gado, bovino e ovino, e muar, são algumas dessas atividades necessárias à produção agrícola e sobrevivência dos seus residentes. As mondas e as ceifas, em particular, ocupavam muita mão-de-obra, tanto de mulheres como de homens.

 

Com efeito, o Sr. Chico do Sobralinho, nos primeiros anos de 1900, decidiu dividir uma parcela do terreno que se localizava no extremo ocidental da sua propriedade. Criaram-se assim, 29 lotes de terreno, com aproximadamente de dois a cinco hectares cada um, que foram cedidos aos rendeiros – aqueles que pagam um foro, ou seja, uma renda, pecuniária ou em espécie. No caso dos Foros do Sobralinho, convencionou-se pagar-se ao proprietário, qualquer coisa como, cinco alqueires por cada dois hectares de terreno,

 

Em simultâneo, o Sr. José Limão, proprietário da Herdade de Valdioginho, que detinha uma parcela do seu terreno encravada entre a Herdade do Sobralinho e a Herdade do Chaparralão, optou por semelhante solução para a sua propriedade. Dividiu essa parcela em 11 lotes, que vieram a integrar este conjunto de foros entretanto criados, totalizando 40 parcelas ou foros. O conjunto ficou conhecido como Foros do Sobralinho.

 

A norte dos foros recentemente criados, situava-se as Courelas de Valdiogo, cujas famílias ai moradoras, conviviam com os residentes dos foros do Sobralinho.

 

Decisões semelhantes, à do Sr. Chico do Sobralinho para a sua propriedade, tomaram-na os proprietários de outras herdades desta freguesia, visto padecerem dos mesmos problemas. Foram então constituídos na mesma época, os Foros do Locário, os Foros do Malhão, Foros do Valdioguinho, ao qual já aludi, os Foros de Cadouços, os Foros de Caiada e os Foros do Corujo.

A VIDA NO FORO DO SOBRALINHO

Muitas destas herdades estavam localizadas em terrenos de areia, designados por “charnecas“, aonde se desenvolvia, à época, culturas de cereais, valendo-lhes a abundante água que a estação de Inverno, severa e de precipitação bondosa – ao contrário dos Invernos dos nossos dias – lhes proporcionava. Apesar dos meses de Verão serem de escassa precipitação, os poços abastecidos, resolviam, em parte, a situação, bem como, as pequenas barragens, para efeitos de rega dos terrenos de regadio, em especial, os pequenos arrozais.

 

Foram os Foros do Sobralinho, povoados com gente que anteriormente vivia em zonas de serra. São oriundos de regiões que vão desde as serras que vão desde Santiago do Cacém, passando pela Sonega, Cercal, Colos, até ao Algarve, zona de Odeceixe e de Cachopo.

 

Vieram estas pessoas, com o intuito de conseguirem possuir um lote de terreno – o foro - para construir o seu lar familiar, ter a sua horta, criar os filhos e ter trabalho, especialmente, junto de casa. Vieram a desbravar terrenos e a construir as suas casinhas, que eram de taipa. Uns já com família constituída, outros para a constituírem. Veio o irmão, a irmã, o tio, o sobrinho, a tia e, deste modo, vão surgindo os “montes”, os terrenos são desbravados, as hortas e os poços começam a pontilhar a paisagem - que eram a fonte de abastecimento familiar -, bem como, o regadio da horta, na época sem mecanização, mas os engenhos e o caldeirão lá os auxiliava a captar a água dos poços.

Todos engordavam o seu porquito, para se abastecerem de carne durante todo o ano, assim como, dedicavam-se à criação de galinhas, coelhos e perus, porque peixe, esse era escasso. Vendiam os galináceos e seus derivados, à “ Ti Maria Janeira”, que vinha dos Foros da Aldraba com uma carroça de Monte em Monte, permitindo reforçar os orçamentos familiares com mais uns escudos, que tanta falta faziam.

 

Apesar das dificuldades da vida e, sujeitos a jornas baixas, sempre ia havendo um dinheirinho e uma vida feliz, mais do que na serra, onde não tinham a independência da sua casinha nem trabalho de forma regular, para além da atividade de tiragem da cortiça ou limpeza de matas.

 

Os residentes trabalhavam à jorna nas propriedades vizinhas, num raio de sensivelmente dez quilómetros: Herdade do Sobralinho de Cima, do Sobralinho de Baixo, do Chaparral, da Ameijoafa, da Terrazina, da Fonte de Corcho, de Valdioguinho, do Chaparral, do Chaminé e Burreiro, constituem essas herdades que lhe ia dando trabalho adicional, porque não chegava o que conseguiam produzir nos seus próprios Foros, não obstante, algumas destas propriedades ficarem a mais de uma hora de caminho. O horário de trabalho, que de horário tinha pouco, estendia-se nessa época, de sol a sol, e era à jorna, ou seja, recebiam um salário por cada dia de trabalho. Outros viviam da criação de gado e das suas sementeiras.

 

Distante dos Foros do Sobralinho – mas não muito – situava-se o Vale de Campilhas. Este tem origem nas serras da zona do Cercal e Sonega e estende-se até, Avalade Sado, A sua ribeira era abundante em água, provida da bacia localizada nas zonas das serras, razão pelo que já havia ali – e ainda existe - muito regadio, nomeadamente para os arrozais.

No ano de 1954, foi inaugurada pelo então Presidente da República Sr. General Craveiro Lopes, a denominada Barragem de Campilhas, que veio a impulsionar um forte desenvolvimento do regadio e, consequentemente, fartos postos de trabalho, que ainda hoje persistem, mas já com muitas transformações, devido às mecanizações e novas tecnologias introduzidas.

 

UMA FAMÍLIA DOS FOROS DO SOBRALINHO

 

Jacinto Mateus, conhecido por Jacinto Queimadas, e sua esposa, Maria José Gonçalves, a quem chamavam Maria Aurélia, vieram a tomar posição num foro que estava na época, ocupado pela D. Maria Calrrinhas. Isto no ano de 1947.

 

Jacinto Mateus nasceu num monte, denominado Monte da Queimada, na zona da Sonega, motivo pelo qual era designado com o apelido de Queimadas: Jacinto Queimadas, assim o chamavam.

 

A Maria José Gonçalves, filha da D. Aurélia Maria, dos Foros do Malhão, era conhecida pelo nome da mãe: Maria Aurélia, assim a chamava os residentes.

 

A ABERTURA DA VENDA

 

Não existiam nos Foros do Sobralinho quaisquer infraestruturas sociais ou de apoio aos residentes. Estava desprovida de uma escola para as crianças e de assistência médica. Estabelecimentos comerciais também não os havia. Ficavam os seus residentes, obrigados, para qualquer necessidade, a deslocarem-se à aldeia mais próxima. Neste caso, a S. Domingos da Serra – sede de freguesia. O caminho era sinuoso, por caminhos de areia ou veredas, por montes e vales, passando por ribeiros - que designávamos por barrancos-, fazendo chuva ou fazendo sol. A localidade de S. Domingos ficava a uma hora de caminho.

 

Era com muito agrado e satisfação que a população aguardava a instalação de um estabelecimento comercial nos foros.

 

Posto isto, o casal Queimadas - meus pais -, na ânsia de melhorarem as suas vidas, viram ali uma oportunidade e abriram um estabelecimento comercial, que nessa altura se denominava por Venda. A Venda, fornecia bebidas, mercearias, farinhas e mais tarde, comercializou roupas.

Era frequente, ouvir-se dizer: A venda do Queimadas.

 

A ESCOLA

 

No início dos anos de 1950, a educação das crianças, surge como uma das preocupações dos pais. Tomaram a iniciativa de reclamar a construção de uma escola primária, o que veio a suceder pouco tempo depois e com o esforço de todos.

 

O Chico do Sobralinho, proprietário da Herdade do Sobralinho de Cima, e que havia constituído os Foros, cedeu o terreno necessário para que se levantasse uma escola.

 

Vários foram os que contribuíram para o sucesso do empreendimento: uns transportavam a terra necessária para erguer as paredes, que se fizeram em taipa, outros forneceram a mão-de-obra e, as telhas, lá apareceram com a quotização dos mais abonados. Assim se ergueu a escola. Esta foi mobilada pelos serviços escolares e pela Junta de Freguesia, que mobilizou uma professora para dar aulas a uma turma, que era mista.

 

Nos anos de 1950/1960, a média de alunos alcançou os 30/40 crianças, constituída pelos filhos dos residentes e dos Foros vizinhos, como sejam, os dos Foros da Caiada, do Locário, Corujo, das Courelas, de Valdiogo e ainda alguns vindos de Cadouços.

 

Alguns dos alunos dos Foros vizinhos, eram obrigados diariamente a deslocações penosas de três a cinco quilómetros  para alcançarem a sua escolinha: de pé descalço, com areia quente ou geada, porque sapatos, não era moda.

 

Recordo que no ano de 1954, um forte nevão impossibilitou o regresso a casa de muitos dos alunos que residiam em Foros mais distantes, tendo sido acolhidos nos Montes mais próximos, até que fosse possível o seu regresso de forma segura.

 

A NOVA ESCOLA

 

Finalmente, em finais dos anos 50, o governo se decide em ordenar a construção de uma nova escola, mas nesta época, já a população estava em franca regressão demográfica, razão que justifica, que só tenha funcionado até meados dos anos sessenta.

ABASTECIMENTO E FORNECEDORES DA VENDA

 

A Venda era abastecida por fornecedores da Aldeia de S. Domingos, de Vale de Água, de Santiago do Cacém e do Cercal. O Jacinto Queimadas, via-se obrigado, a deslocar-se a estas localidades, com muita frequência, socorrendo-se da sua carroça, para trazer as respetivas mercearias e afins, e quando não o podia fazer, fazia o filho.

 

Entre os anos de 1958 a 1963, era eu, o Leonel, então, que quase todos os dias me deslocava até S. Domingos, com a respetiva carroça a fim de munir a Venda de bens. Umas vezes, sozinho, outras, com a companhia de amigos da terra, nomeadamente, com o Joaquim Loução ou com o Joaquim Camarinha. Para o efeito levava comigo o dinheiro necessário, sem que nunca tenha tido qualquer problema de assaltos, apesar do longo caminho que tinha de fazer de ida e volta.

 

Acontecia, porém, e com frequência, chegar à aldeia e o padeiro não ter pão cozido, dado fornecer outra Venda nos Foros da Casa Nova, nomeadamente, a do Sr. Aníbal Guerreiro, que por ter vindo mais cedo, obrigava-me aguardar algumas horas até haver pão cozido novamente. Que falta faziam os telemóveis já nesse tempo.

 

Todos os montes tinham o seu forno, onde era cozido o pão, cuja fornada, normalmente, dava para oito dias. Pão quente só na hora. Com um pouco de azeite constituía um belo bolo muito apetecível.

 

Na moagem de S. Domingos que pertencia ao Sr. José Mateus, o trigo era trocado por farinha, ou então, comprada. O mesmo sucedia com o azeite no respetivo lagar do Sr. José Miguel, que trocava por azeitonas para o produzir.

 

Nos anos de 1950, a Venda também passou a vender farinha, cujo abastecimento era feito pela moagem que trazia o pequeno trator de marca Ferguson, de cor cinzenta, conduzido pelo Sr. José Peixeiro, que trazia através de caminhos de areia, 3 ou 4 sacas de farinha, num estrado improvisado para o efeito.

 

Surgiu posteriormente, a padaria em S. Domingos, do Sr. José Fura e em Vale Água, a do Sr. Ezequiel.

 

Aproveitando esta “modernice”, muitas das pessoas passaram a comprar o que se designava por “pão padeiro”, em vez de cozeram o seu próprio pão, até porque a lenha começou a escassear.

Na mesma altura, surge o fogão a gaz de garrafa, o que veio fazer as delícias de todas as donas de casa.

 

A BARBEARIA E A CARPINTARIA

 

Na mesma altura em que surge a Venda de Jacinto Queimadas, nos Foros do Sobralinho, Jacinto Silvério, abre uma barbearia e uma carpintaria, que ficavam no Foro contíguo, a escassos metros da Venda.

 

Eram estes os dois locais privilegiados para convívio entre residentes. Serviam para beberem uns copitos, pagar uma rodada aos amigos, contar as suas aventuras da vida e, jogar à malha ou à carta. Assim se passavam os poucos tempos livres que iam tendo.

 

Durante alguns anos também o António Mendes exerceu a atividade de barbearia num estabelecimento que havia aberto. Em simultâneo ia-se dedicando a outros trabalhos no campo. Em 1963, emigra para a Alemanha.

Naquela época, não era moda nem do conhecimento pessoal discutir futebol e muito menos política.

 

O rádio surgiu nos Foros do Sobralinho em finais dos anos cinquenta, com a compra de uma telefonia, a bateria para a Venda. Foi a novidade da altura, tendo pouco tempo depois, surgido os rádios a pilhas, um sucesso e um grande salto no desenvolvimento cultural da população. Logo muitas senhoras, começaram a ouvir o romance radiofónico patrocinado pelo detergente “TIDE “.

 

Os trabalhadores que tinham um horário de trabalho extenso, de sol a sol, iniciam uma luta por uma jorna de oito horas de trabalho, o que foi conseguido alguns anos depois. Isto nos princípios dos anos sessenta.

 

DIVERTIMENTOS PARA A JUVENTUDE

 

Somente haviam os bailes em casa do Joaquim Beiranito, ou nos Foros vizinhos, cujos acordeonistas eram o Domingos Cabaça ou o Firmino de Cadouços.

 

LOCALIZAÇÃO DOS FOROS DO SOBRALINHO

 

Os Foros do Sobralinho estavam localizados a uns oito quilómetros da Freguesia  bem como da Aldeia de Vale de Água, no centro de umas zonas de trabalho, e um pouco distante do Vale de Campilhas. As estradas e caminhos de atalho, por meio de areais, obrigavam a ultrapassar pontes ou a atravessar os barrancos.

 

Os Invernos eram rigorosos, com semanas de chuva quase permanente, levando a que esses barrancos transbordassem do seu leito, tornando-se intransponiveis, nomeadamente, com as carroças e carros de bois, conduzindo a um isolamento dos Foros do Sobralinho, que por vezes atingia vários dias.

 

O verão, como sempre, pela sua condição climatérica, obrigava a uma adaptação das culturas, ou seja, as de sequeiro.

 

A DESERTIFICAÇÃO

 

A partir dos fins dos anos de cinquenta, começaram a aparecer na agricultura da região as novas tecnologias, como sejam, as mondas químicas, com recurso a avionetas, a tractores para a lavoura e ceifeiras debulhadoras, e verifica-se a industrialização nas zonas limítrofes das grandes cidades, nomeadamente de Lisboa.

 

A guerra colonial, eclode em mil novecentos e sessenta e um.

 

Todas estas situações deram origem à não absorção de tanta mão-de-obra nos trabalhos do campo, bem como à mobilização de todos os jovens para o serviço militar;

 

Face à distante localização do Vale de Campilhas, muitas famílias deslocaram-se para os foros da Pouca Sorte, entretanto constituídos.

 

Muitas das Jovens foram para empregos domésticos, em Lisboa ou em outras cidades.

 

Os homens e jovens, procuraram trabalhos nas fábricas da zona limítrofes de Lisboa, por conseguinte, emigrando com as suas famílias.

 

Os rapazes com a idade de incorporar a vida militar, foram mobilizados, não regressando mais às origens, após a passagem novamente à vida civil.

 

Resultado, os montes foram ficando sem habitantes e a Venda sem clientes a quem satisfazer.

 

A minha última visita aos foros do Sobralinho, acontece em Outubro de 1970, em Lua-de-mel.

 

Face a estas situações  também o meu pai, Jacinto Queimadas, em 1971, foi obrigado a vender o seu foro e tomar conta de novo estabelecimento comercial, agora na localidade da Mimosa em “Alvalade Sado “para aonde foi viver, ainda com as minhas irmãs em casa.

 

E assim ficaram os Foros do Sobralinho sem habitantes, pelo que os mesmos foram vendidos e plantados eucaliptos, não só nesta faixa de terra, bem como nas herdades vizinhas, o que deu origem a uma vasta zona de eucaliptal.

 

Desapareceram os foros do Sobralinho ficando somente as memórias dos que ali viveram. 

 

MEMÓRIAS DIVERSAS

 

COMÉRCIO AMBULANTE

 

Armindo Manuel Marques (anos de 1950) sua idade 16/18 anos.

Depois da idade escolar lá andava o Armindo Queimadas de monte em monte a ajudar o pai no negócio de tendeiro, vendendo roupas.

Nessa altura aparecem as famosas camisas de TV (Nylon) e saias de terylene plissadas, com o calor dos trinta/quarenta graus Alentejanos.

O negócio ia de vento em popa, vendiam-se saias e camisas de TV, às carradas.

A publicidade da época: Saias e Camisas de TV para você, é só lavar e vestir, não precisa de por a secar nem engomar.

 

PEIXE  FRESCO!

 

O fornecimento de peixe era assegurado pelo Sr. José de Freixo, que, com duas canastras enfiadas numa vara de pau de pita corria de monte em monte, a tentar vender o seu peixe.

VENDA E OURO

 

Também apareciam os ourives com a suas peças de ourivesaria a fazer o seu negócio.

 

PASSARINHOS

 

Recordo que os pardais existiam em grandes bandos, que quase tapavam o Sol, e cobriam todas as pernadas das árvores onde pousavam e consumiam grandes quantidades de cereais.

Muitas cegonhas brancas faziam os seus ninhos.

Os ninhos das andorinhas eram nos beirais.

Muita outra passarada existia na zona, bem como, alguma caça nas herdades vizinhas, tais como, lebres, coelhos, codornizes e perdizes.

Nas lavouras na herdade do Sobralinho, junto aos foros, muitas vezes colocavam-se armadilhas e apanhava-se assim muitos e bons passarinhos que davam um bom petisco.

 

INSPEÇÕES MILITARES

 

Sucediam quando os jovens atingiam a idade da vida militar.

Lá iam eles à sede do Concelho, todos às SORTES, ou seja, à inspeção militar;

No seu regresso, era uma festa! Começava com a sua chegada ao final do dia no inicio dos foros, com a largada de foguetes, o que dava origem a que todas as pessoas viessem ao encontros deles para saber quais eram os que tinham a fita vermelha ou fita branca, ou seja, que tinham ficado apurados ou livres do serviço militar.

Seguia-se o tradicional bailarico.

Era, uma fase muito importante na vida de um rapaz, que a partir daquele momento passava a ser visto como homem, um adulto.

 

RECORDO

 

As manhãs orvalhadas de Primavera em que junto à extrema dos foros o Ovelheiro “Ti” Pestana guardava o seu rebanho e se ouvia à distância o tintilar dos guizos do gado, o ladrar dos seus ajudantes, bem como, do porcariço António Rabiça.

 

Quando frequentava a terceira classe, não conseguia decorar a tabuada de multiplicar. Um dia a professora “Judite “ passou-se e deu-me umas boas reguadas. Resultado: No dia seguinte a tabuada estava na ponta da língua. Bendita professora

Que na despedida da professora Alcina - uma mulher grande- o Carlos Filho do Sr. Manuel Tereso, lançou um foguete.

Não recordo a razão mas não deve ser difícil de adivinhar: reguadas.

 

O Teófilo da Luz era uma pessoa deficiente que só tinha pernas até ao joelho. O Sr. usava uma joalheiras de cabedal como se fossem umas botas. Penso que foi de nascença. Pois o mesmo, conseguia fazer uma vida quase normal e tinha uma força de braço que conseguia subir para uma carroça normal só com a sua força de braço, que puxava todo o seu corpo a uma altura de mais de um metro do chão.

A lavoura era feita com um arado especial, de rabo mais baixo, mas lavrava com o seu macho e conseguia acompanhar o andamento normal.

 

FORNECEDORES DA VENDA

 

De São Domingos:

O Francisquinho: os vinhos;

O Manuel Jorge: As cervejas – Só havia Sagres;

O tabaco: Onças de duque para fazer cigarros;

Os maços de cigarros: provisórios, às riscas encarnadas e brancas;

Os definitivos, maços azuis e branco.

O ANTÓNIO MATEUS:

As mercearias

O JOSÉ FURA:

O pão, padeiro

EM VALE DE ÁGUA

JACINTO DE MONTES ALHOS: (Também tinha moagem de farinhas)

Farinha

EZEQUIEL:

O  pão

NO CERCAL

LOJA DOS ISIDROS e ARMAZÉM SIMÕES

Roupas, em peça para vender a metros e miudezas de costura

LOJA  DO SR. BRANCO:

Mercearias

EM SANTIAGO DO CACÉM

CASA MERCANTIL e ARMAZÉM BARROSO

Mercearias;

LOJA VERDE e OUTRAS DA RUA DAS LOJAS

Roupa

 

Em S. Domingos havia o posto dos correios do Sr. Antoninho, Sempre que alguém ia à aldeia, levava o correio para toda a gente dos foros, que, entregava pessoalmente, ou deixava na Venda, para posterior entrega ao seu destinatário.

Havia um sentido de entre ajuda dos vizinhos e amigos

 

A PARTIDA

 

Em Março de 1963 o Leonel, à semelhança do que aconteceu com muitos jovens, ainda com 16 ANOS, foi-me dada autorização para ir procurar trabalho em Lisboa e por lá fiquei. Foi mais uma machadada no princípio do fim dos foros do Sobralinho, dado que a idade já não ajudava e as pessoas começavam a sair da terra, ficando só os mais velhos.

 

Os anos foram passando e as famílias crescendo, muitos filhos e muito esforço à procura de alcançar melhores condições de vida.

Carroça

Carroça

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Sobralinho de Cima

Sobralinho de Cima

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